quinta-feira, 12 de junho de 2008

Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

3 comentários:

  1. Ei. Como estás?

    Lindo post. Esse Fernando é realmente uma PESSOA!!!!

    Bjo.

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  2. Complexo demais até para a complexidade que criei de mim.Prefiro não dividir minha alma e nem me questionar sobre isso, divido apenas as minhas máscaras e de mil personas me faço único, tal feito o arco-íris de tantas cores que nem podemos ver...

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  3. ahh

    adoro esse poema

    Noto à margem do que li
    O que julguei que senti.
    Releio e digo : "Fui eu ?"
    Deus sabe, porque o escreveu.

    lindo msm...

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Comentários