quinta-feira, 10 de julho de 2008
Gritos pra Torcida.
Nunca irei esquecer daquele gol que não foi feito, mesmo vestindo a camisa e dando meu sangue: o 10 será uma lembrança da boa fase e a insistência em não sorrir.
Jogávamos juntos, todos nós.
E de repente, ao me contundir, resolveram me aposentar com plenos vinte anos.
Tiraram a camisa.
Tiraram o que eu tinha.
Cobrou uma contusão, uma recensão e agora meu passe é só meu.
Aprendi que os gritos da torcida não são suficientes pra garantir um bom patrocinador que logo eles deixam de ecoar.
Chutar as bolas e as metáforas. Com força!
[...]
Menos a Lua...
A Lua não é metáfora e nem é fria como se pensa.
Eu conquistei o mundo (que está se destruindo por si só), agora irei conquistar a Lua.
Podemos até flutuar...
Lá as minhas contusões não importarão mais.
Lunático. Irei sumir.
Vou pro mundo lunar de carona com Exupéry e Nietzsche.
Eu, a Lua e a solidão...
Estarei sonhando outra vez?
segunda-feira, 7 de julho de 2008
A Menina que Aprendia sem Livros
Confesso sentir muita coisa também.
Minha irmã vivia num mundo de sonhos e o maior deles era a própria vida que levava, dividida com o namorado, o grande amor da sua existência.
Entranho, mas os sonhos às vezes pareciam pesadelos... Ela soluçava as lágrimas na frente de uma janela cheia de letras enquanto eu despertava inconsciente, e voltava a pegar no sono.
Era bom ter um irmão em casa, um homem, alguém que mudava e tornava-se parte do cenário.
Não era encenação, éramos uma família quase completa. Talvez eu tenha aprendido bem mais que algumas fórmulas matemáticas num domingo qualquer, mas só saberei daqui a alguns anos.
Não tenho pressa e nem carrego aquela ansiedade deles, sou só a espectadora.
Em algum momento, notei algo diferente. Um sorriso seco e sem açúcar, combinado com olhos toldados - era o despertar súbito antes da hora... Colocar os pés no chão e descobrir que além de não ter o tapete de costume, o piso era frio. Tive medo; eles tiveram náuseas.
As noites que se seguiram foram de muito pouco sono pra eles.
É provável que o cansaço os vença - talvez eles voltem a sonhar, mas não o mesmo sonho, e eles durmam em paz... quem sabe juntos!? Mas acho que não...
Todo mundo tem precisado de umas boas redes e de tardes ensolaradas pra compensar essas noites escrevendo.
sábado, 5 de julho de 2008
O Caminho é a Própria Busca
Um rato observava e anotava na mente tudo que podia, do alto da sua torre de vigia - que não passava de um móvel velho à beira de uma sacada. Nos viu passar sem nos notarmos de verdade... Apressados.
Olhávamos, eu e tal moça, prum acidente ocorrido há pouco. Acendi depressa um cigarro enquanto atravessava a rua congestionada. Ela segurava a bolsa e tomava um chá gelado. Não olhei nos olhos e creio que ela tenha feito o mesmo. Talvez houvesse algum sentido nos olhares, mas não chegou a acontecer.
Enfim, o barulho foi causado pelo acidente. A vida ceifou-se rápido daqueles corpos... Mas tínhamos nossas próprias vidas pra cuidar.
Ao entrar em casa, percebi seu olhar distante e notei que ele usava um capacete - na verdade era uma tampinha de coca que ficara presa em sua cabeça.
No âmago das suas reflexões, entendeu que a vida era efêmera e pensou na sua própria: espectador... Figurante.
Sim, era um rato... Não era pior nem melhor que eu.
Recostei-me junto à sacada e observei-o por alguns instantes, reciprocamente.
Ele me pediu pra ter cuidado com a vida, pois ela só servia aos que a adoravam. Pediu atenção pra saber sentir o que a vida pede em seu desequilíbrio. Depois disso, passou a falar como se falasse consigo mesmo:
- A contemplação da vida com paixão leva-me a encontrar ‘o caminho de viver’ dentro de mim mesmo.
Ele em seu mundo pequeno e solitário, sorriu, fechou os olhos e disse que a maior perda da vida é o que deixamos morrer dentro de nós enquanto vivemos.
Deu-me as costas e saiu cantando uma adaptação que ele mesmo fez de uma velha canção...
Assim ele se foi e nunca mais o vi.
Fiquei o resto do dia observando as nuvens enquanto o relógio badalava a cada quarto de hora.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Por Onde Andei?
Somos o esboço da Loucura de forma mais fraterna e eufêmica. Os filhos da revolução que se travou dentro de nós mesmos.
Somos o silêncio que grita acordando todo mundo na madrugada... A vizinhança inteira sente as dores que sentimos.
Somos dotados de poder de decisão. Poder este, que afeta nossos caminhos, nossos círculos.
A linha parabólica tem lugar certo pra percorrer, mas nós não sabemos a nossa função. Não temos função definida e vagamos a esmo à procura de respostas... À procura da melhor decisão, do melhor caminho.
Ás vezes, temos que voltar e percorrer tudo novamente, como se estivéssemos correndo na direção contrária à que o círculo nos propõe.
Apenas corremos demais.
Encontraremos a pipa perdida?
Viveremos o fado da repetição dos nossos erros?
Poderemos viver as coisas boas do plano “A” estando no plano cartesiano?
É melhor corrermos mesmo... Pra comprar sonhos antes que as padarias fechem as portas.
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Vidro Quebrado no Castelo Caído
Cá estamos no 2º andar de um fábrica de palavras, pertinho da administração.
Eu, a moça com o jarro, o pescador... figurinhas inertes num móvel qualquer perto de uma janela ensolarada.
Pouca gente nos nota, mas preocupam-se com nossa poeira.
Há vinte anos eu fui feito com carinho; há alguns meses, alguém me comprou com palavras: uma pechincha. Hoje sou uma lembrança esquecida.
Um pássaro de vidro.
Trancaram-me na gaiola, ensolarada durante o dia, mas fria à noite, de pedras e palavras... um prédio rosa que deveria ser azul.
Esperavam que eu cantasse, mas sou vidro, transparente e insípido, não canto sozinho. Pra mim só resta o canto... o canto da ante-sala.
Penso em voar pela janela e curtir o sol... nem que eu me quebre em queda livre, como qualquer objeto que se lança pela janela.
Mas não. Já vendi sonhos... com 90% de desconto e a prazo. Ainda lembro como é, mas não durmo mais.
Mas esse é outro texto. Não sou pombo-correio.
No saguão, Legião tocou o dia inteiro e até os empresários pensaram um pouco na vida...
Mas era segunda-feira... não me notaram e seguiram suas vidas.