sábado, 5 de julho de 2008

O Caminho é a Própria Busca

Não fui eu, nem foi a moça com sapatos vermelhos, nem foi o disco aranhado da vitrola da padaria...
Um rato observava e anotava na mente tudo que podia, do alto da sua torre de vigia - que não passava de um móvel velho à beira de uma sacada. Nos viu passar sem nos notarmos de verdade... Apressados.
Olhávamos, eu e tal moça, prum acidente ocorrido há pouco. Acendi depressa um cigarro enquanto atravessava a rua congestionada. Ela segurava a bolsa e tomava um chá gelado. Não olhei nos olhos e creio que ela tenha feito o mesmo. Talvez houvesse algum sentido nos olhares, mas não chegou a acontecer.
Enfim, o barulho foi causado pelo acidente. A vida ceifou-se rápido daqueles corpos... Mas tínhamos nossas próprias vidas pra cuidar.
Ao entrar em casa, percebi seu olhar distante e notei que ele usava um capacete - na verdade era uma tampinha de coca que ficara presa em sua cabeça.
No âmago das suas reflexões, entendeu que a vida era efêmera e pensou na sua própria: espectador... Figurante.
Sim, era um rato... Não era pior nem melhor que eu.
Recostei-me junto à sacada e observei-o por alguns instantes, reciprocamente.
Ele me pediu pra ter cuidado com a vida, pois ela só servia aos que a adoravam. Pediu atenção pra saber sentir o que a vida pede em seu desequilíbrio. Depois disso, passou a falar como se falasse consigo mesmo:
- A contemplação da vida com paixão leva-me a encontrar ‘o caminho de viver’ dentro de mim mesmo.
Ele em seu mundo pequeno e solitário, sorriu, fechou os olhos e disse que a maior perda da vida é o que deixamos morrer dentro de nós enquanto vivemos.
Deu-me as costas e saiu cantando uma adaptação que ele mesmo fez de uma velha canção...
Assim ele se foi e nunca mais o vi.
Fiquei o resto do dia observando as nuvens enquanto o relógio badalava a cada quarto de hora.

2 comentários:

  1. Verdade, lembrou-me um verso de uma música o seu título, mas não consigo recordar realmente qual verso, nem qual música.
    Olhares e significados, às vezes é melhor deixá-los pairar na imaginação apenas.
    Enquanto a vida, concordo...
    Éphémère, como a própria vida...

    ResponderExcluir
  2. São bons, São um tanto bons!

    Tô gostando Gostando!

    =D

    ResponderExcluir

Comentários